A relação entre o vício e o cérebro

O cérebro é o órgão responsável por basicamente definir quem somos. Todas as funções do nosso corpo são informações enviadas a partir dele por meio de conexões entre os neurônios. Por isso, o vício e o cérebro estão ligados diretamente.

Qualquer ação que decidimos tomar, seja dar um passo para subir uma escada ou um pensamento que nos ocorre, passa pelo cérebro que processa aquela informação antes de encaminhar a informação para uma região específica do corpo.

Os vícios, sejam eles causados por hábitos ou substâncias químicas, alteram a forma como essas informações são enviadas e recebidas pelo cérebro. Essa intercepção anormal faz com que as informações sejam interpretadas pelo cérebro como algo essencial ao corpo e devem ser repetidas constantemente. Por conta desse comportamento, problemas podem surgir.

O papel da dopamina na relação entre o vício e o cérebro.

A dopamina é um neurotransmissor mensageiro que age no sistema nervoso de todos os mamíferos. Sua função é variada e está ligada na modulação de emoções, humor, estresse, estimulação de memórias, concentração, apetite e sono.

Quando fazemos algo prazeroso, seja comer seu prato favorito, receber um abraço de uma pessoa querida ou realizar uma tarefa que cause felicidade, a dopamina é liberada no corpo, orientando o cérebro a repetir essas atividades.

Essa função é crucial para entender como funciona o vício. Por exemplo, ao tomar uma xícara de café, que possui substâncias viciantes como a cafeína, a dopamina liberada fará com que o cérebro entenda que o café é algo essencial e precisa ser ingerido mais vezes no corpo.

Para estimular ainda mais a satisfação dessa necessidade, a dopamina pode ser acionada quando um gatilho relacionado a um vício específico é disparado. Por exemplo, no caso do café, o organismo da pessoa irá liberar dopamina apenas ao ver uma máquina de café expresso. Essa reação fará com que ela queira imediatamente pegar mais uma xícara, pois seu corpo será recompensado com aquela sensação prazerosa.

Prazer e gostar: nem sempre sinônimos

Em uma matéria publicada pela BBC, mostrou um estudo do pesquisador Kent Berridge em que mostra que a dopamina não está necessariamente ligada ao sentimento do gostar, mas sim apenas do prazer.

Em testes feitos com ratos, o cientista colocou um palito de metal na gaiola e, ao ser tocado pelo roedor, ele recebia um pequeno choque, fazendo-o se afastar do palito. Entretanto, quando a dopamina do rato era ativada, mesmo tomando choques, ele ainda se interessava pelo palito e continuava tocando nele.

Esse comportamento levantou uma questão que até então não era considerada, mas que a dopamina é responsável apenas pelo prazer e não pelo gostar. Essa descoberta mostrou que, para quem possui vícios, nem sempre o desejar está relacionado ao gostar.

A mudança causada nos neurotransmissores pelas drogas

As drogas são substâncias químicas que possuem normalmente duas características: imitar os transmissores químicos naturais do corpo ou estimular além do normal o sistema de recompensas do cérebro.

Quando uma substância, como cocaína, por conta de sua composição química faz com que a dopamina liberada pelo organismo seja amplificada, ou seja, aumentando e muito a sensação de prazer.

Quando a droga afeta o sistema de recompensa do cérebro, ela toma conta desse controle. Então, quando essa substância química é injetada, primeiro haverá uma grande descarga de dopamina ao ter contato com ela. Porém, posteriormente, não apenas o contato direto com a droga liberará essa descarga, mas também os locais onde ela foi consumida ou com as pessoas que ali estavam naquele momento.

Tudo isso é armazenado no cérebro e, para ter mais daquela sensação, ele começa a enviar informações para o corpo para buscar e usar a droga novamente. Isso transforma a dopamina em uma ferramenta para ampliar o desejo de consumir mais aquela substância.

Conforme o tempo passa e a repetição da utilização da droga passa a ser constante, o corpo vai naturalmente reduzindo a produção da dopamina. Com essa queda brusca, a pessoa passa a se sentir deprimida e não consegue mais realizar outras atividades que antes lhe davam prazer. De repente, apenas a droga consegue suprir a necessidade de repor a dopamina no corpo.

Os efeitos a longo prazo do uso de drogas

Dependendo do tipo da droga, os efeitos podem variar, mas de forma geral, haverá uma mudança no comportamento dos neurônios e circuitos cerebrais. Das substâncias mais agressivas (como heroína e cocaína), os efeitos que mais podem aparecer são:

– Diminuição na capacidade de raciocínio e pensamento;

– Dificuldade em realizar atividades cotidianas;

– Desenvolvimento de doenças psiquiátricas;

– Risco de contágio a doenças como hepatite e Aids;

– Problemas cardíacos.

Em casos de como as drogas, é necessário um acompanhamento médico profissional para que o vício possa ser tratado de forma rápida, antes que acabe se tornando um hábito ainda mais destrutivo. Em paralelo, grupos de apoio também podem ajudar nesse processo.

Dr. Bruno Gonzales Miniello – Neurologista

CRM: 145.455

RQE 89792

Referências

A CIÊNCIA do vício: por que você nem sempre gosta das coisas que deseja? BBC News Brasil, 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-55286946> Acesso em: 22/06/2022

20/02 – Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, Ministério da Saúde. Diponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/20-02-dia-nacional-de-combate-as-drogas-e-ao-alcoolismo/> Acesso em: 22/06/2022

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Dr. Bruno Miniello

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